top of page

Lima: o início de uma jornada para a vida toda


Praia de Miraflores. Foto: Arquivo Pessoal.

Conhecer novos lugares sempre foi algo importante para mim. No ensino fundamental, meus olhos brilhavam nas aulas de história, história da arte e geografia. Amava ver aqueles mapas e pensava em desbravar os sete mares. O mesmo era com as fotos dos livros. Como seria entrar na Catedral de Notre-Dame? Ou ir até a Piramide de Gizé e descobrir o grande mistério? É claro que naquela época, por ser eurocentrista o nosso ensino, o meu maior sonho era conhecer a Europa. Talvez passar no nordeste da África para ver as pirâmides ou ficar uns dez dias no japão para curtir a terra dos animes e mangá.

Existia apenas uma dificuldade conhecida por mim que me separava do meu sonho, e não era o dinheiro, mas a língua. Mas especificamente, eu nunca gostei do inglês e muito menos tenho vontade de conhecer os Estados Unidos. A única língua que amava era o espanhol. Então, no ensino médio, depois de sair do cursinho de inglês, convenci o meu pai em pagar um curso de espanhol. Claro que recebi muitas criticas, mas, mesmo assim, segui em frente.

Confesso que a minha ideia inicial era fazer espanhol para viver na Espanha. Juntar uma boa grana e “adiós Brasil”. Mas no curso conheci um novo mundo: os países da América Latina. É claro que já tinha ouvido falar do México e da Argentina. Mas no curso de espanhol estudei a história do Peru, do Chile, Equador, Bolívia, Costa Rica, Colômbia…. E vi imagens. Nossa, como nunca pensei em morar na Cusco?

Na faculdade entrei em outro cursinho de espanhol e dessa vez levei meu pai comigo. Queria mostrar o encanto dos países latinos. Para isso, o lembrei que seria uma ótima oportunidade para aprender uma nova língua e #partirmestrado. Comecei no zero, falei que não sabia a língua só para acompanhar o meu pai. Minha professora, hoje uma grande amiga, me deu a oportunidade que sempre sonhei: ir para o estrangeiro.

Ela tem um namorado peruano e pela primeira vez ela conheceria o país dele. Para acalmar sua mãe ela me convidou e eu… não recusei. É obvio que isso só foi possível porque meu pai conhecia a nossa professora e o dólar não estava muito caro. Como até para comprar uma balinha passávamos cartão, a passagem foi comprada por milhas. Sim, o meu primeiro destino era o Peru.

A viagem estava marcada para dezembro. Até lá tive que escultar os preconceitos e reclamações da minha família. “Paulo – nome do meu pai – você é louco. Como deixa essa menina viajar sozinha? E se alguém a roubar?”; “Essa menina virará mula. Vão colocar drogas na bagagem dela”; “Ela nem sabe pegar um ônibus, vai acabar sendo sequestrada!”.

Caro leitor, você sabiam que, segundo a Exame (http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/os-25-paises-mais-violentos-do-mundo-brasil-e-o-18o#1) o Brasil é o 3º país mais perigoso da America do Sul? Dos 25 países mais perigosos do mundo ele está em 16º? E que o Peru está… em nenhuma colocação? Pois é, há muito preconceito com a América Latina, começando pelo fato que não estudamos nas escolas sua história, mesmo ela sendo o complemento da nossa, e terminando com o fato que nós não nos consideramos latinos.

Mas voltando, minha viagem estava marcada para dezembro. Como comprei minha passagem por milhas e separada da minha amiga, ela foi em um dia e eu fui em outro. Pela primeira vez viajaria sozinha e para Lima. Estava amando isso!

Lima é a capital do Peru e antiga sede do Vice-reinado da América do Sul (para esclarecimento: a Espanha, na época colonial, deu aquela região uma espécie de autoridade regional para administração daquela parte das colônias). Com uma arquitetura com uma mistura encantadora do passado com o atual, uma deliciosa culinária exótica e um povo extremamente acolhedor. Além disso, Lima surpreende por ser extremamente barata.


O QUE VER?


O centro da cidade costuma ser uma muvuca, mas uma muvuca divertida. De um lado, pessoas lutam para ganhar o pão, de outro, turistas apontam suas câmeras para a beleza histórica a frente. Uma delas é a Catedral de Lima (ou Basílica Catedral de Lima y Primata del Peru). Ela já foi reconstruída cinco vezes – não esqueça, como eu, que lá existe terremoto – e é no estilo barroco. Dentro tem belos mosaicos e pinturas. Está aberta a visitação, mas aos domingos a entrada é apenas para os fieis. Em frente fica um dos parques mais lindos da cidade, a Plaza Mayor de Lima.

Na quadra ao lado da Catedral existe um prédio com várias lojas para quem quiser comprar as tão características lembrancinhas do Peru – muita coisa bonita e barata. Também por perto existe a Casa de La Literatura Peruana, além da arquitetura, o prédio encanta porque nos degraus têm um lindo poema do poeta Jorge Eduardo Eielson. Outra praça que não se pode deixar de visitar é a Plaza San Martín. Já foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade em 1988 também fica próximo a Catedral, no centro histórico.

Mas se você deseja ver uma arquitetura diferente, no bairro San Borja, em frente ao Parque de la Felicidad, está o quartel general do exército, o Pentagonito. Além do parque e do quartel, San Borja é conhecido por ser um bairro seguro e ecológico. Além de ter a Biblioteca Nacional e o Teatro Nacional.

Outro bairro que todo turista deve conhecer é Barranco. Foi lá onde tomei um pisco suor, uma batida da região que usa da cachaça deles, Pisco, com um pouco de limão e clara de ovos (Não façam careta pela clara, é pouquinho mesmo, nem dá para senti o gosto). O bairro boêmio, segundo meu guia pessoal (a amiga ter namorado estrangeiro é muito legal), já foi uma região marginalizada, mas por ter uma praia com areia (muitas praias em Lima são de pedras) começou a ser um espaço para a elite limeña e para turistas. Hoje Barranco é conhecido por ter vários restaurantes e bares, além de musica ao ar livre e discoteca.

Outro bairro com praia limenã é Punta Hermosa. Um pouco dificil de chegar, mas é querida por surfistas.

Deixei o melhor por último. A moderna Miraflores. O bairro rico de Lima. Lá tem de tudo: shoppings, lojas, ótimos restaurantes, cassinos (SIM, LÁ É PERMITIDO), jardins, parques, praias e até mesmos sítios arqueológicos. Em um pequeno precipício à beira mar está o Parque del Amor e o Shopping Larcomar, são tão próximos um do outro que quase não dá para saber aonde termina um e começa o outro.

Em Miraflores as praias são de pedra e a água é fria (na verdade começo a pensar que o Pacifico é frio), mas foi lá que eu vi pela primeira vez uma foca (viu, água é fria). Atenção: existem lojas com artesanatos peruanos, mas são extremamente caros – preço de turista maluco. Lima não é Cusco, mas tem a Huaca Pucllana, um sitio arquiologico com data de 200-700 d. C. e que tem lhamas (essa é a parte legal).


O QUE COMER?!


Viajar é conhecer uma nova gastronomia. Algumas podem parecer estranhas, nojentas e feias, por isso, antes de provar o turista já chega com preconceito. Sempre achei interessante burlar essa ideia e cair de boca. Se você não fazer isso no Peru pode passar fome. Você deve estar pensando: “duvido você chegar na China e comer cachorro, formiga…” Claro que não comeria! Assim como não comi Cuy no Peru. Esse prato é muito famoso e é vendido como o frango assado aqui. O Cuy é um porquinho-da-india (Já tive 6 porquinhos-da-india, não quero falar mais sobre isso).

Tirando o Cuy, existem outras comidas estranhas, mas gostosas como o Cerviche. É o meu favorito dos favoritos. Um pescado cru com limão, cebola, alho, pimenta… (deixa de preconceito por causa do cru!). Aaah, não posso esquecer., no Peru (e já começo a pensar na América latina) praticamente todos os pratos vão com pimenta. Eles tem até um molho (crema) de pimenta que não é muito picante chamado Ají.

Tem também um espeto de Anticuchos que é o coração do boi (Antes do preconceito lembra que aqui comemos o coração da galinha). Tem o Ají de Gallina que é a mistura de um frango desfiado com creme de pimenta (não é um creme fino, ok?) servido com ovo, arroz e batata. E outro prato que pode provocar desgosto porque usa abacate é o Causa Limeña que seria um sanduíche estranho feito de batata, abacate, limão, ovos, cebola, pasta de Ají…. Para quem não gosta de abacate ou acha estralho, quando eles fazem esse prato eles colocam limão o que deixa o abacate sem gosto nenhum.

Agora uma coisa que mais achei estranho foi a sopa. Além de ser aguada a ela costuma vir com um peito inteiro de frango, dois ovos cozidos (também inteiros) e macarrão. “Não vou para o Peru com essa culinária maluca!” Relaxa, eles tem Pollo com papas fritas que é frango com batata frita e uma porção de arroz pode acompanhar. Mas o que você não deve deixar de tomar é Chicha Morada. Essa bebida é única, feita com milho roxo que só o Peru tem, um pouco de limão e canela. Se vocês beberem o frozen…

Lá eles também tem um refrigerante diferente. Chama-se Inca Cola. É amarelo e pode até parecer xixi, mas tem gosto de goianinho/minerinho. E eles também fazer uns aperitivos diferentes. Se alguns salgadinhos são feito de batata desidratada, lá é com banana e com milho que estava preste a estourar e ser uma pipoca, tudo isso com sal para acompanhar a cerveja.


CURIOSIDADE E ATENÇÃO


Como eu já falei antes no Peru tem cassinos. Eles estão espalhados por toda a cidade e são tipo Las Vegas mesmo. Alguns são temáticos e tem até dentro de hotéis. Como não entrei em nenhum não sei o que dizer para acrescentar. Mas além disso existe outra coisa que o turista deve ter cuidado e eu só descobri depois, estando lá.

O primeiro foi o hotel. Minha amiga e eu pegamos o hotel mais barato, porém em um bairro até considerado de classe media. O que não sabíamos era que no Peru não existem Motéis, então quem é de lá costuma usar hotéis baratos para… em fim, vocês sabem. E infelizmente parece que o hotel que ficamos não tinha um isolamento nas paredes e por isso minha amiga e eu ouvimos certas demostrações de amor… Lembra que se você for com criança deve ter um cuidado muito grande na hora de escolher o hotel. Como foi minha primeira viagem internacional não sabia que existiam Hosteis e por isso não sei dizer se lá tinha.

Transporte: como está o seu espanhol? O meu não eram muito bom, graças a deus eu tinha uma professora ao meu lado. Devo confessar que o trânsito é um caos. O povo não respeita, fura sinal, não para na faixa, buzina toda hora. Quando eu cheguei pensei que nem sinaleiro tinha. Mas normalmente o limeño costuma usar taxi, porque é muito barato mesmo, mas você deve ter uma habilidade que eu não tinha. Falar espanhol muito bem. Porque não existe bandeira, então você deve negociar o preço. Oi?! Sim, você para um taxi e fala o lugar onde quer ir, o motorista fala o preço e se você não gostar tem que chamar outro.

Normalmente é aí que o turista saí perdendo. Pois não sabe o preço mínimo nem o máximo para chegar em algum lugar. Aconselho fazer amizade com o povo da recepção do seu hotel e perguntar. O namorado da minha amiga falou que o preço para andar de cima a baixa em Cusco é mais ou menos cinco nuevo soles, na época, 2014, eram uns R$4,85. “Mas eu não quero andar de taxi!” Existe ônibus, lotadoooo, mas existe. Porém não há em Lima uma empresa fiscalizada pelo governo e tals. Lá meio que parece combies que andam no Rio de Janeiro, tem fiscalização, mas não tem fiscalização.

O clima de Lima é estranho. Cheguei lá e não vi um dia com sol. Todos os dias são nublados, parece que vai chover, mas não chove. Aaah, na verdade em Lima não chove. Segundo meu guia pessoal, o máximo que pode fazer é chuviscar por dois minutos. “Então é quente?” Não, na verdade faz até um pouco de frio. O vento que vem do mar é fresco. Para quem, como eu, morra no interior, pode ficar enjoado com a maresia.

Mas quer saber o mais estranho? É o tamanho dos vegetais. Existe uma lei que proíbe transgênicos no Peru, mas as verduras e frutas são imensas. Um milho, por exemplo tem até três vezes o tamanho do nosso.

Quando eu fui para lá devei uma boa parte em dinheiro e outra em um cartão internacional que era também poupança. Mas a bandeira era Master Card e eu passei um sufoco lá. Primeiro porque o povo tudo usa Visa. As máquinas Master eram velhas e durante um momento muito triste da minha vida, em uma loja. Deixei de levar lembrancinha porque o cartão não passava.

Fiquei em Lima por dez dias. Ainda sonho em voltar para conhecer outras regiões. Escrever isso aqui me deu até vontade. Quase chorei de saudade. Agradeço o espaço para escrever minha experiência. Espero que vocês tenham gostado e se me deixarem eu volto para contar sobre o Chile e mostrar o que notei de diferente. Beijos amores!


Você também pode gostar:
bottom of page