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A​ ​cidade​ ​está​ ​aberta​ ​para​ ​suas​ ​escolhas:​ ​Porto​ ​Alegre,​ ​sua​ ​cultura​ ​e​ ​liberda


Orla do Guaíba e o Beira-Rio ao fundo. Foto: Arquivo Pessoal.

Orla do Guaíba e o Beira-Rio ao fundo. Foto: Arquivo Pessoal.


Morar em Porto Alegre para mim foi como abraçar o desconhecido, aceitar o escuro e deixar o conforto. Minha ansiedade se desfez ao pensar como seria difícil morar sozinha em uma cidade nunca antes visitada por cinco meses e tão longe de casa. Em alguns momentos até me arrependi, pensando que não me adaptaria, mas eu não pude deixar de tentar depois de tanto esforço.

A capital dos gaúchos é recheada de prédios históricos e parques. As pessoas daqui gostam dos espaços abertos, das feiras antigas, de andar nas ruas conversando com passos despreocupados. Escutei várias vezes as expressões “vamos tomar um chima na Redenção” e “comer umas bergas na orla do Guaíba”. Traduzindo, esses programas são beber chimarrão no parque mais querido da cidade, a Redenção, e comer bergamotas (tangerinas) na orla do saudoso rio que banha a cidade. Na Redenção se encontra todo tipo de arte. Lá vemos artistas de rua e atores cantando e dançando, além de músicos, desenhistas e pintores.

O centro, como esperado, tem prédios mais históricos, mas a atmosfera boêmia e simples das ruas muito me interessaram. Entre uma igreja e outra você encontra a Casa de Cultura Mário Quintana, por exemplo, e também o Mercado Público. Sem falar da Cidade Baixa, bairro preferido dos jovens, nossa querida CB. Claramente boêmio, os bares, boates e restaurantes característicos de lá são famosos entre os porto alegrenses. Afinal, se você foi à capital gaúcha e não se divertiu na Cidade Baixa, você não a conheceu de verdade.

A arte é bem presente por aqui, e alguns dos pontos turísticos conhecidos são o Fundação Iberê Camargo, um museu com acervos do artista Iberê, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, e os vários teatros de rua. As apresentações gratuitas nas ruas de Porto Alegre são um grande atrativo e basicamente a prova de como os gaúchos aplaudem sua cultura. Isso, claro, se você suportar ver uma peça ao ar livre no frio do inverno.

Quando cheguei, fiz o que pude para absorver o que a experiência poderia me oferecer. Conheci lugares, caminhei pelas avenidas íngremes do centro, virei noites na CB. A Rua das Andradas rendeu lembranças felizes para mim pelo comércio e pela diversidade de pessoas. Uma rua em que todos se encontram, se esbarram, se conhecem, onde as vozes dos vendedores, dos músicos de rua e dos pedestres conversando se misturam. A orla do rio Guaíba também te leva a entender porque os gaúchos prezam por aquele lugar. Basta observar o pôr-do-sol nas margens do rio e tomar um chimarrão para sentir a tranquilidade do momento.

O clima em Porto Alegre é de extremos. Nos meses de fevereiro a abril eu vivi em um calor angustiante, com umidade. Depois de uma semana, o tempo mudou drasticamente e entramos em um outono gelado, seguido de um inverno rigoroso que pegou todos de surpresa. Mesmo as pessoas vinda da Serra, região mais ao sul do estado dos queridos “gringos”, sentiram a diferença.

Logo percebi que a cultura gaúcha é muito preciosa, as tradições são cultivadas tanto por mais velhos quanto pelos jovens. Basta perguntar quem sabe o hino do seu estado. “Você sabe?” As pessoas me afirmavam com uma expressão óbvia. “É claro que sim”. Às vezes até encontrei alguns homens vestidos com a pilcha gaúcha – a vestimenta tradicional formada pela bombacha, botas e o chapéu – andando por aí. Inclusive, pela lei Estadual da Pilcha de 1989, essa roupa é considerada traje oficial. Sim, ela pode substituir o famoso terno e gravata.

O chimarrão é um símbolo tão famoso e querido que não demorei a me acostumar com gosto da erva. Aonde eu fosse lá ele estava, seja na sala de aula, na academia, no parque... na porta do museu Iberê Camargo havia até uma placa proibindo a bebida junto com outras de “não traga comida” ou “não masque chiclete”. Na casa onde morei por quatro meses e meio o “chima” estava sempre presente.

Éramos quatro mulheres dividindo um apartamento. Duas gringas – os descendentes de europeus - uma porto alegrense e eu, goiana. Fiquei muito interessada em como a cultura italiana se fazia presente na Adri e na Luci, a primeira vinda de Caxias do Sul e a segunda de Serafina Corrêa, cidades do interior. O sotaque e as maneiras são diferentes, a cultura é forte e a identidade, grande. É um mundo à parte, um Brasil que não conhecia, um povo com muito orgulho de suas raízes. Adri me explicou muitas vezes sobre o dialeto Veneto, uma mistura de português e talian que sua família de Caxias domina, e em algumas conversas Luci me disse que era fluente na língua das nonnas.

Os porto alegrenses falam muito e alto. São expansivos. A culinária é farta, o churrasco maravilhoso. Minhas amigas comentaram sobre como engordamos ao visitar a cidade, e sim, é verdade. O esporte é muito importante para os gaúchos, principalmente o futebol. É uma febre, mesmo quem não curte conhece os jogadores e torce para algum time de vez em quando. No dia de “Gre-nal”, a cidade toda torna-se um estádio, já que a rivalidade entre gremistas e colorados é antiga e movimenta as ruas. Quando os dois times se enfrentam, você com certeza escutará os torcedores gritando, mesmo dentro de casa. Além do futebol, também vi outros esportes serem valorizados.

Minha experiência em Porto Alegre pode ter sido breve, mas foi marcante. É um daqueles períodos importantes em que aprendemos a sermos maduros. Foram momentos de plena liberdade, aqueles em que não sabemos como aproveitar todo o tempo livre ou escolher a melhor oportunidade. As opções são várias, a cidade está aberta e ninguém lhe cobra nada. Você é o dono da própria vida, pode seguir o caminho que deseja. E muitas vezes esse pensamento é assustador.

Estou muito feliz de ter escolhido essa capital para morar longe de casa pela primeira vez. Muitas vezes, almoçando com amigos de faculdade, nós discutimos sobre a visão que os outros estados têm dos gaúchos, se nós de fora os víamos como pessoas frias ou competitivas. Depois da minha experiência aqui, relembro como fui bem tratada todas as vezes que pedi ajuda de alguém na rua para não me perder. Encontrei muitas pessoas prestativas, compreensivas, fiz bons amigos e achei os costumes encantadores. As pessoas daqui se acostumaram com a beleza histórica da cidade. Bem, eu não me acostumei, continuo caminhando admirada pela cultura viva de Porto Alegre, a mistura de Itália e Brasil tão bem feita, uma terrinha muito “tri”.

Caroline no Arco da Redenção (RS). Foto: Arquivo Pessoal.


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